OMS: Dra. Cláudia Braga destaca o Brasil como referência em políticas públicas de saúde mental
A rede de serviços de saúde mental de base comunitária, aberta, que substitui o modelo asilar, e a experiência de desinstitucionalização no Brasil são referências mundiais para a saúde mental. A afirmação é da terapeuta ocupacional, professora e pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Dra. Cláudia Pellegrini Braga, recentemente eleita para presidir o Grupo Assessor Estratégico e Técnico sobre Saúde Mental, Saúde do Cérebro e Uso de Substâncias (STAG-MNS, na sigla em inglês), da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em entrevista ao Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), além de falar sobre sua trajetória profissional e acadêmica, Dra. Cláudia Braga disse que ter uma terapeuta ocupacional na liderança do STAG-MNS expressa, por exemplo, o resultado do movimento e da luta antimanicomial no Brasil.
No Sistema COFFITO/CREFITOs, a pesquisadora já coordenou a Câmara Técnica de Terapia Ocupacional em Saúde Mental do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 3ª Região (CREFITO-3), no estado de São Paulo.
Rede de serviços
A especialista afirmou que, no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), o Brasil conta com “uma rede diversificada e coordenada de serviços e estratégias de saúde mental orientadas para o cuidado em liberdade e para a afirmação dos direitos de cidadania”. Ela explicou que essa rede foi implementada em um processo, ainda não finalizado, cujos serviços ofertados são de base comunitária em substituição a um modelo de atenção asilar.
Dra. Cláudia ressaltou que o Brasil é referência em política pública de saúde mental, não apenas pela implementação da rede. “O que a torna única é seu sentido ético e político, com o desenvolvimento de práticas e saberes junto às pessoas, nos territórios e contextos reais de vida, afirmando o cuidado em liberdade, inclusive em situações complexas e de crise”, disse.
Segundo ela, os terapeutas ocupacionais têm múltiplas atuações, e divulgar isso é estratégico para a profissão. “Estar na liderança do STAG-MNS, como professora de Terapia Ocupacional, é uma alegria pelo reconhecimento de que esses espaços também são dos terapeutas ocupacionais”, comemorou.
Comitê internacional
Dra. Cláudia comentou que 20 especialistas de diversos países compõem o STAG-MNS, o qual responde diretamente ao diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, e tem a missão principal de indicar à Organização, com base em análises sobre os desafios atuais e futuros da saúde global, “os caminhos estratégicos que devem ser adotados nos temas de saúde mental, saúde do cérebro e uso de substâncias, sugerindo documentos estratégicos globais e propondo atividades para sua implementação”.
A nova liderança do comitê internacional da OMS, cuja gestão será de 2025 a 2027, é graduada pela USP tanto em Terapia Ocupacional como em Filosofia. Além disso, possui formação em Psicanálise, mestrados em Medicina Preventiva e em Saúde Mental, assim como doutorado em Filosofia.
Com vasta experiência em políticas públicas de saúde e formação profissional, Dra. Cláudia concluiu que há duas principais estratégias que podem ser adotadas, a médio e longo prazo, para garantir a disponibilidade de terapeutas ocupacionais especializados nas diversas áreas de atuação: a atenção a condições como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a alocação de profissionais no Sistema Único de Saúde (SUS).
Foto: Dra. Cláudia Braga/Arquivo pessoal