Conselho Nacional de Saúde recomenda que MEC não permita cursos à distância na saúde
O Conselho Nacional de Saúde (CNS) recomendou que o Ministério da Educação (MEC) permita apenas cursos presenciais na área da saúde, vedando a modalidade à distância. A ideia é que essa regra seja incluída no novo marco regulatório da educação à distância (EaD), que está sendo elaborado pelo MEC. O posicionamento está na linha do que defende o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), para quem cursos de saúde EaD tornam a formação profissional precária, o que, no fim, vai ter reflexos negativos no atendimento à população.
A recomendação é assinada pelo presidente do CNS, Fernando Zasso Pigatto, e ainda será analisada pelo plenário do órgão. O CNS é ligado ao Ministério da Saúde e conta com representantes do governo federal, dos prestadores de serviço, dos profissionais de saúde e dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). O Dr. Derivan Brito da Silva, conselheiro do COFFITO, é um dos integrantes do Conselho Nacional de Saúde.
O CNS defende um limite mínimo de carga horária para as aulas à distância por meio de tecnologia da informação. Isso não se aplicaria a uma parte do curso, como as disciplinas práticas, que devem ser dadas apenas na modalidade presencial. O CNS também recomenda que a oferta de novos cursos e vagas na saúde ocorra mediante estudos de sua necessidade. Dados dos censos da educação superior mais recentes vêm apontando o excesso de vagas, o que compromete a qualidade da formação e da atenção à saúde da população. Outra recomendação é a realização de uma consulta pública antes da publicação do novo marco regulatório do MEC com as regras dos cursos EaD.
Segundo o parecer técnico que acompanha a recomendação, “há uma indissociabilidade entre teoria e prática, que devem andar juntas”. O CNS também defende a necessidade de integrar os mundos do trabalho e da educação, o que deve ser feito por meio do ensino presencial, permitindo ainda ao estudante conhecer a realidade da saúde do país e da sua região. Diz ainda que “vem acompanhando sistematicamente e com muita preocupação a expansão indiscriminada e desregulada da formação profissional em saúde na modalidade de Educação a Distância (EaD)”.
“Portanto, os estudantes devem ser inseridos nos cenários de práticas do SUS e outros equipamentos sociais desde o início da formação, rompendo com a dicotomia teoria-prática, incluindo os serviços de reabilitação do SUS e os serviços conveniados, a exemplo das APAES, que atendem pessoas com deficiência intelectual e Síndrome de Down, e das AMAS, que atendem pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA)”, diz trecho do parecer técnico.
Na recomendação, o CNS destacou uma resolução do próprio órgão, de 2005, segundo a qual a autorização e o reconhecimento de cursos de saúde pelo MEC somente são possíveis com a não objeção do Ministério da Saúde e do CNS. Também citou manifestações anteriores nas quais já tinha se posicionado de forma contrária à autorização de cursos à distância. Em 2023, por exemplo, o CNS lançou a campanha “Diga não aos cursos de graduação em Saúde à distância”. No mesmo ano, enviou contribuições a uma consulta pública aberta pelo MEC nas quais destacou que os cursos de graduação de saúde devem ser presenciais.
Quadro atual
Em junho, o Ministério da Educação (MEC) publicou a Portaria nº 528, suspendendo novos cursos EaD de qualquer área, e não apenas da saúde. A ideia do governo federal é ter um novo marco regulatório para a graduação à distância. Só depois disso é que vai retomar a liberação de novos cursos EAD. Em agosto, houve uma audiência na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados para debater o assunto. A Comissão de Ações Políticas (CAP) do COFFITO esteve presente e continua acompanhando o assunto de perto.
Na recomendação enviada ao MEC, o CNS também destacou que há projetos de lei em tramitação no Congresso com o objetivo de proibir cursos de graduação de saúde à distância.