4 de março de 2008

Temporão diz que investimentos em pesquisa com células-tronco depende do Supremo

Brasília – O aumento dos investimentos do Ministério da Saúde em pesquisa com células-tronco embrionárias depende da aprovação, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), da constitucionalidade de artigos da Lei de Biossegurança.

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse ao receber em seu gabinete um grupo de portadores de doenças neurodegenerativas que além dos R$ 24 milhões gastos no ano passado em pesquisas, o ministério pretende criar uma rede brasileira de terapia celular. O grupo agradeceu o apoio público do ministro à continuidade das pesquisas.

“Evidente que se o resultado for negativo, for pela proibição, estarão proibidas as pesquisas com células-tronco embrionárias no Brasil. Isso vai afetar profundamente o país. Nós entraremos num período de grave retrocesso, de trevas, mas eu estou confiante de que, ao contrário, nós vamos conseguir uma vitória e vai ser uma vitória importante para o país, para os pacientes, para os pesquisadores e para a nação brasileira”, afirmou o ministro.

O ministro disse que uma decisão contrária às pesquisas vai afetar portadores de doenças, pesquisadores, brasileiros e a nação.

Segundo o ministro, afeta os doentes porque são pessoas que vivem com limitações e sabem que há esperança no aperfeiçoamento de tecnologias; os pesquisadores porque o país investiu em capacitação de brasileiros e estruturou laboratórios no país; os brasileiros, porque têm uma grande expectativa em relação ao resultado e a nação porque a aprovação das pesquisas significará a ampliação da capacidade de se desenvolver tecnologia nacional.

“Essa é uma das poucas áreas em que o Brasil tem condições técnico-científicas de se colocar no mesmo nível de desenvolvimento dos países centrais. Então esses quatro motivos mostram que há um grande desejo da nação brasileira, do país, dos pesquisadores, dos pacientes, dos brasileiros em geral para que a Lei de Biossegurança seja mantida e essas pesquisas possam se realizar”, afirmou.

Temporão destacou que a decisão de liberar as pesquisas não é uma questão de fé, relacionada à Igreja, mas uma questão de ciência.

“Não acho razoável que uma determinada religião queira impor seus dogmas”, disse.

O ministro lembrou que os transplantes de órgãos não seriam possíveis se a legislação não tivesse evoluído e modificado o conceito de morte cerebral.

“Se é razoável defender que a vida termina quando o sistema nervoso central pára de funcionar, seria razoável defender que ela começa quando o sistema nervoso central está totalmente estruturado e funcionando”, disse.

Durante a audiência com o ministro, a servidora pública Gabriela Costa, portadora de distrofia muscular de cintura, entregou ao ministro um documento com argumentos favoráveis às pesquisas, e flores, e o menino João Victor Freire Xavier, de 9 anos, portador da Síndrome de Duchenne, entregou ao ministro uma camiseta de campanha de apoio à pesquisa com células-tronco.

A mãe de João Victor, a contadora Lívia Freire, explicou que a doença do filho o impede de regenerar a musculatura do corpo, que sofre desgaste naturalmente. Ela acredita que a continuidade das pesquisas com células-tronco embrionárias poderá, ao menos, estabilizar a doença do filho.

“Como ele mesmo diz, parar de tomar remédio ruim. É uma esperança para a gente, pelo menos poder estabilizar o quadro dele, porque ver a doença avançando todo dia é um pouco doloroso para quem está perto”.

Fonte: Agência Brasil