23 de julho de 2014
Menino que entrou em campo na Copa superou deficiência na AACD
Menino que entrou em campo na Copa superou deficiência na AACD

O menino Getúlio Felipe da Silva, de 9 anos, ficou conhecido em Porto Alegre após entrar em campo de mãos dados com o goleiro alemão Manuel Neuer no Estádio Beira-Rio no jogo da seleção germânica contra a Argélia pela Copa do Mundo em 30 de julho. O que pouca gente sabe é que nos passos do garoto estava a história de anos de trabalhos realizados dentro da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), na capital gaúcha.
Quando nasceu, Getúlio foi diagnosticado com paralisia cerebral. A lesão nos neurônios afeta a postura e os movimentos, os médicos chegaram a dizer aos pais que ele poderia nem chegar a caminhar. “Nós o sentávamos, e ele não tinha equilíbrio nenhum, tinha dificuldade de falar”, recorda o pai do menino, o microempresário Getúlio Santos da Silva.
O próprio Getúlio lembra da fase. “Não conseguia caminhar sem a parede e sem a cama, eu me apoiava em tudo”. No tempo de trabalho com a AACD, o tempo sem caminhar ficou para trás e agora ele quer ainda mais.
Hoje em dia, a maior dificuldade de Getúlio é parar quieto. Ele quer ir ainda mais longe. “Quero dar um pulo enorme. Porque eu vou no gol, e sempre que eles chutam alto, eu não consigo pular”, confessa ele.
Com a terapia que utiliza jogos virtuais, o menino aprendeu a transformar a paixão pelo futebol em movimentos. O esporte foi escolhido sob medida pelos terapeutas para desenvolver o equilíbrio. “Melhora a agilidade, melhora a transferência de peso, o caminhar fica mais alinhado, a gente ganha várias coisas”, explica a terapeuta ocupacional Adriana Darley.
A AACD depende quase totalmente de doações para desenvolver seus trabalhos. Em Porto Alegre, o encaminhamento dos pacientes é realizado no Posto do IAPI, que chegam à instituição através da Secretaria Estadual de Saúde. O tratamento desenvolvido na Associação tem enfoque multidisciplinar, partindo da fisioterapia, os médicos e especialistas trabalham também com terapia ocupacional, acompanhamento psicológico, pedagogia e avaliações clínicas. Atualmente, a AACD tem 770 pacientes em tratamento e presta mais de 500 atendimentos por dia. Quase a totalidade dos atendimentos, 96%, é de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Mesmo as órteses, aparelhos que auxiliam a desenvolver o caminhar dos pacientes, são oferecidas sem custos aos pequenos da Associação. Adler Gabriel, de 6 anos, começou a se adaptar ao uso de muletas graças a uma dessas órteses. Ainda com um pouco de dificuldade e auxílio do andador, aos poucos, ele vai aprendendo a caminhar. Com a força de vontade do menino, nada fica difícil. “Força totalmente”, diz o pequeno se apoiando nos braços para seguir.
A mãe, Naiara Moutinho, assiste orgulhosa a evolução do filho. “Para as mães é tão comum ver o filho dar o primeiro passo. Para os pais que estão aqui dentro, a gente busca isso com tanta vontade, a gente quer tanto, que queremos filmar, tirar foto, mostrar pra todo mundo. Graças a Deus eu vejo, e que todas possam sentir isso que eu sinto”, diz ansiosa para acompanhar onde Adle pode chegar.
As órteses oferecidas aos pacientes da AACD são produzidas dentro do espaço da instituição. A oficina ortopédica chega a fabricar 250 aparelhos por mês. Com necessidade de espaço maior para atender a demanda, a instituição chegou a dar início a um novo prédio para ampliar a oficina. A obra, no entanto, necessita de doações para ser finalizada.
Entre todas as ajudas, a da família ainda é a essencial para o sucesso do tratamento dos pequenos guerreiros cheios de força de vontade. “Tem que estimular, ter alegria de fazer as coisas, querer jogar bola, querer ser cantor, qualquer coisa que eles quiserem. Tudo eles podem fazer. O deficiente físico, o amputado, todos eles têm condições de poder realizar tarefas do nosso cotidiano”, afirma o pai de Getúlio.
Já veterano em superar dificuldades, o menino, que sonha em ser comentarista de futebol e um goleiro como Neuer, dá a dica: “Não tem que ter pressa. Às vezes até tem a ansiedade, mas tem que manter a calma. E continuar tentando até acertar. Com os erros a gente aprende”, diz com um sorriso no rosto.
Doações à AACD podem ser feitas através do telefone (51) 3382-2228.
FONTE: G1
