19 de Janeiro: Dia Internacional da Terapia Ocupacional
O Terapeuta Ocupacional pode ser considerado como o cientista sócio- sanitário que se ocupa do fazer humano, estudando os comportamentos ocupacionais, objetivando resgatar a funcionalidade objetiva e subjetiva de cada sujeito, em diferentes grupos e demandas cotidianas. As transformações tecnológicas que emergiram na primeira década do corrente milênio, juntamente com as intensas mudanças societárias, ecossistêmicas, nas relações de trabalho e do capital, propugnaram por alavancar os Terapeutas Ocupacionais em busca de uma profunda revisão acerca do papel do profissional diante dos desafios que este cenário anuncia.
Historicamente, a essência da Terapia Ocupacional foi centrada no uso da atividade humana com o caráter terapêutico Entretanto, o uso com finalidade terapêutica das ocupações não é algo recente, remontando às primeiras civilizações. Na China, cerca de 2600 a.C, pensava-se que a inatividade seria a gênese da doença e as atividades eram usadas como tratamento e treinamento físico.
O marco temporal de fundação da Terapia Ocupacional situa-se no século passado. Numa brevíssima retrospectiva, pode ser observado que em 1910 as primeiras praticantes da profissão de Terapia Ocupacional, chamadas de ajudantes de reconstituição ou reabilitação, trabalharam durante a Primeira Guerra Mundial, a fim de promover a reabilitação de soldados feridos, incapacitados e de pacientes civis. Havia a necessidade de ter algo útil fazer e, assim, recompor a finalidade em suas vidas. No Brasil, em 1911 surgiu a Colônia para Mulheres no Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, onde mais tarde a Dra. Nise da Silveira desenvolveria o trabalho das artes plásticas denominado de terapêutica ocupacional. Foi somente nas duas primeiras décadas do séc. XX que ocorre o início formal da Terapia Ocupacional, com o renascimento do tratamento moral, impulsionado pela necessidade pela Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) para o tratamento dos soldados deficientes.
William Rush Dunton, nos EUA conforme afirma Nobre (2004) publicou o livro “Occupational Therapy: manual for nurses”, surgindo, então, pela primeira vez o termo Terapia Ocupacional e com ele a Sra.Eleanor Clarke Slage (Fonte: NETF. No.) fundou a primeira escola. Em 15 de março de 2010 estamos comemorando os 92 anos de fundação da profissão de Terapeuta Ocupacional. Segundo os registros de MORUNO (2003), na cidade de New York (EUA), no dia 15 de março de 1917 as Sras. Eleanor Clark Slagle, Susan Cox Johnson e Isabel G. Newton, os Srs. George Edward Barton, William Rush Dunton e Thomas Bissel Kidner rubricaram o documento de criação da associação americana de terapia ocupacional. Esse documento é considerado o Ato de Fundação da Terapia Ocupacional no mundo, tal como a conhecemos na atualidade.
Em 1920 (Fonte: Canadian Association of Occupational Therapists-CAOT) a Terapia Ocupacional se expandiu para além dos serviços de reabilitação física, passando a atuar também junto a pacientes com tuberculose e atendendo indivíduos com doença mental. Em 1922 surge a primeira definição: “Terapia Ocupacional é qualquer atividade, mental ou física, especificamente prescrita e orientada com o objetivo de contribuir e apressar a recuperação de doença ou lesão”.
Ao final dessa década, a Terapia Ocupacional se alinhou mais à Medicina organizada, a fim de buscar maior cientificidade como, de um modo geral, buscaram outras profissões de saúde naquela época.
Passados 92 anos, o novo milênio convida os profissionais a atuarem em novas frentes de intervenção laboral, quer seja na Educação, na Cultura ou na justiça, cidadania e direitos humanos. Existem ainda inúmeros outros nichos mercadológicos, onde os profissionais dessa categoria laboral estão sendo necessários. A exemplo disso, existe um embrião da formação de uma rede na America Latina para a montagem de um banco de dados com Terapeutas Ocupacionais que atuem em catástrofes naturais e em situações-limite, como os conflitos armados e a violência urbana, constituindo uma espécie de “Terapeutas Ocupacionais Sem Fronteiras”.
Especulações à parte, a reflexão inevitável acerca dos rumos da Terapia Ocupacional a partir dos balizamentos teóricos da ciência ocupacional e das praxes dos profissionais encontra amparo nas seguintes indagações: Quais são as necessidades dos Terapeutas Ocupacionais em termos de complexidade para a formação acadêmica, para a garantia de exercício profissional nos espaços legítimos de sua especificidade e ampliação dos horizontes interventivos? Quais são os projetos possíveis para a melhoria da formação acadêmica? Como constituir elementos que subsidiem a maturidade acadêmica e a articulação entre teoria e prática e as perspectivas para incentivar a educação continuada? Quais são as estratégias de adequação dos currículos no Brasil e na América Latina às necessidades regionais? O momento é de reflexão, mas é também de ação, embalada pelas oportunidades das políticas públicas de saúde,desenvolvimento social e justiça.
A categoria tem avançado e conquistado nichos mercadológicos para o crescimento da sustentabilidade laboral dos profissionais.
A visibilidade da profissão e a empregabilidade estão ligadas diretamente a outro elemento injetor de ânimo e de vitalidade para qualquer profissão: a ampliação de vagas na rede pública no ensino para novos Terapeutas Ocupacionais no Brasil. A abertura dos cursos de graduação foi resultado de um árduo e longo processo onde diferentes atores de diferentes segmentos representativos da categoria dialogaram e lutaram. Envidando os esforços para alcançar os objetivos almejados, após anos de luta o êxito foi logrado.
Permanece a inquietação com o destino dos cursos na iniciativa privada. Quais seriam as estratégias para salvaguardar a existência destes cursos com qualidade? Com o objetivo de avançar neste campo, deveria haver uma interlocução com a educação na busca de soluções.
Ainda há muito o que fazer, com a finalidade de suprir a carência no quantitativo de profissionais capacitados em todo o território nacional, para assumir as responsabilidades e condução da parte que cabe ao Terapeuta Ocupacional na atuação junto ao Sistema Único de Saúde (SUS), o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), na Educação e na reorganização do sistema judiciário brasileiro.
Aos pioneiros da profissão no Brasil, aqueles que elegeram a clínica ou a educação como forma de contribuir para o crescimento da Terapia Ocupacional, o nosso reconhecimento e gratidão. Os 92 anos de profissão conclamam os novos profissionais para que todos busquem novas oportunidades, de forma criativa, crítica , construtiva e ética.
No ano de 2010 a Terapia Ocupacional completa 92 anos de constituição como profissão autônoma. Este deve ser um bom momento de maturidade para pensarmos nas questões que afligem a categoria. Cada profissional deve estabelecer esta meta e buscar ampliar novas estruturas de classe e fortalecer o lugar do Terapeuta Ocupacional nos órgão representativos específicos da categoria.
O futuro já começou!Vamos juntos pensar nos próximos 92 anos, onde e como queremos estar.
“Quem sabe faz a hora não espera acontecer!”
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